domingo, 24 de novembro de 2019

EXISTENCIALidades: Longaminidade



Imagem: http://obviousmag.org/percepcoes_culturais_e_quimeras_cotidianas/2015/06/mar-e-lua.html

Que tal ir mais além, encontrar a vontade na palma da mão?

O silêncio na voz que me cala na hora que falo é por subversão: o destino me pôs no silêncio da imaginação
O futuro me fez de presente, minha alma provê liberdade e com ela o querer ficar bem faz parte da cura
O antídoto para a realidade é a longaminidade do mar, lua clara crescente, pandeiro e canção
Seu peixe do barco é o peixe que mostra meu chão e a isca da vida é a gente

Não sei se rio ou se chuva

Minha deusa me acuda na curva da dor!


Lembro na prece da noite que o grito do açoite é a voz do amor


Novembro de 2019, Primavera. Mar de Aracaju. F(rio) deságua nas correntes quentes do mar

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

EXISTENCIAL IDADES - Caminho Guerreiro


Para converter-se em um sábio, é necessário transitar pelo caminho do guerreiro.

Um guerreiro não é alguém que vai à guerra matar pessoas e sim aquele que demonstra integridade em todas as suas ações e um controle sob sua própria pessoa.

Um guerreiro vive cada momento de sua vida, sem orientar-se pela complacência ou pelo lamento, sem ganhar ou perder, está sempre alerta e lúcido a tudo que o rodeia. Age com abandono de si mesmo com maneira impecável.

A maneira mais eficaz de se viver é como o guerreiro. Um guerreiro pode se preocupar e pensar antes de tomar sua decisão, mas uma vez que a tomou, segue seu caminho, livre de preocupações e pensamentos; haverá mil outras decisões ainda à sua espera. Esta é a maneira do guerreiro.

Há muitas coisas que um guerreiro pode fazer, em determinado momento, que não poderia ter feito anos antes. Essas coisas não mudaram; o que mudou foi a ideia do guerreiro sobre si mesmo.

O caminho do guerreiro oferece ao homem uma nova vida, e essa vida tem que ser completamente nova. Ele não pode trazer para essa nova vida seus velhos e horríveis hábitos.

Um guerreiro é um caçador. Calcula tudo. Isso é controle. Mas, uma vez terminado seus cálculos, ele age. Entrega-se. Isso é abandono. Um guerreiro não é uma folha à mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo; ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas contra si mesmo ou contra o que ele acha certo. Um guerreiro está preparado para sobreviver, e ele sobrevive da melhor maneira possível.

A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso a seus semelhantes, enquanto o guerreiro está preso ao infinito.

Você deve cultivar a ideia de que um guerreiro não precisa de nada. Diz que precisa de ajuda. Ajuda para quê? Você tem tudo o que é preciso para a viagem extravagante que é a sua vida.

Os guerreiros não se ajudam, não tem compaixão por ninguém. Para ele, ter compaixão significa que você desejava que o outro fosse como você, e você o ajuda só para isso. A coisa mais difícil do mundo é um guerreiro deixar os outros em paz. A impecabilidade do guerreiro é deixar os outros como são, e apoiá-los no que forem. Isso significa, naturalmente, que você confia que também eles sejam guerreiros impecáveis.

Tudo o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto se inicia com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante. Se este ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um sentimento de intenção inflexível que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isto é realizado, o caminho está aberto. Uma coisa leva a outra até que o guerreiro descubra seu potencial completo.

A impecabilidade do guerreiro evoca uma atitude interior, uma luz que se aproxima notavelmente da humildade e a aceitação de viver imerso na eternidade, transformando cada circunstância vital em um desafio vivo e sincero. Ninguém nasce guerreiro. O caminho continua até o final de nossas vidas.

CASTAÑEDA, Carlos. Uma estranha realidade. Ed. Record, Rio de Janeiro.

domingo, 8 de dezembro de 2013

EXISTENCIAL IDADES - Outra possibilidade de andar pelas ruas: flanar




"Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco, gozar nas praças os ajuntamentos defronte das lanternas mágicas, conversar com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde, depois de ter ouvido dilettanti de casaca aplaudirem o maior tenor do Lírico numa ópera velha e má; é ver os bonecos pintados a giz
nos muros das casas, após ter acompanhado um pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado; é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem cujo riso de amor causa inveja. É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas. Do alto de uma janela como Paul Adam, admira o caleidoscópio da vida no epítome delirante que é a rua; à porta do café, como Poe no Homem da Multidões, dedica-se ao exercício de adivinhar as profissões, as preocupações e até os crimes dos transeuntes. É uma espécie de secreta à maneira de Sherlock Holmes, sem os inconvenientes dos secretas nacionais. Haveis de encontrá-lo numa bela noite numa noite muito feia".

JOÃO DO RIO. A alma encantadora das ruas.  Ministério da cultura. Fundação biblioteca Nacional. Departamento Nacional do Livro.In:http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/alma_encantadora_das_ruas.pdf .

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

EXISTENCIAL-IDADES - Cidade e desejo

" É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa"

"(...) casa pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares."

CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis.



terça-feira, 9 de julho de 2013

MUSICAL IDADES: Desconforme-se

CONFORMÓPOLIS DESCONFORMANDO-SE




A cidade acorda e sai pra trabalhar
Na mesma rotina, no mesmo lugar
Ela então concorda que tem que parar
Ela não discorda que tem que mudar
Mas ela recorda que tem que lutar

Condução lotada, apertada, de pé
A cidade desce no largo da Sé
Mecanicamente ela mostra ter fé
Na proximidade de um dia qualquer
E na liberdade ela toma um café

Escritório, chefe, o cartão pra marcar
O magro sanduíche engolido num bar
Ela então desperta, ela tenta gritar
Contra o que lhe aperta e que lhe faz calar
Mas ela deserta começa a chorar

sexta-feira, 24 de maio de 2013

EXISTENCIAL IDADES - Não ter tempo

" Nossas rugas são assinaturas das grandes paixões que nos estavam destinadas, porém não estávamos em casa".

Walter Benjamin

Com o advento metropolitano contemporâneo o tempo nos falta porque deixamos que outros o administre.

A une passante, poema de Charles Baudelaire:




A uma passante

A rua em derredor era um ruído incomum,
longa, magra, de luto e na dor majestosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala o frenesi que mata.

Um relâmpago e após a noite! - A érea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Sé te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamis provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado - o o sabias demais!

Charles Baudelaire
Tradução: Paulo Menezes

CURIOS IDADES - Surrealismo e o empurrão pra esquerda

O grupo surrealista em 1930. Da esquerda para a direita: Tristan Tzara, Man Ray, Salvador Dalí, Hans Arp, Paul Éluard, Yves Tanguy, Max Ernest, André Breton, René Crevel



"Pensar na atividade humana me faz rir" - essa manifestação de Aragon mostra de maneira bastante nítida o caminho que o surrealiosmo teve de percorrer, de suas origens até sua politização. Com razão caracterizou Pierre Neville, que pertencia originalmente a esse grupo, em seu excelente texto, La révolution et les intellectuels, esse desenvolvimento como dialético. A hostilidade da burguesia contra toda manifestação de liberdade espiritual desempenha um papel decisivo nessa transformação de uma atitude extremamente contemplativa em uma oposição revolucionária. Foi essa hostilidade que empurrou o surrealismo para esquerda.(...)"

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura; tradução Sérgio Paulo Rouanet - 8 ª Ed. revista - São Paulo: Brasiliense, 2012 - (Obras escolhidas v. 1)

quinta-feira, 21 de março de 2013

EXISTENCIAL IDADES - A que será que se destina?


"(...) Os homens, em sua maioria, levam vidas de sereno desespero. O que se chama resignação é desespero crônico. Vão das cidades sem perspectiva para o campo sem futuro, e terminam por se consolar com a valentia das martas e dos ratos almiscareiros. Uma desesperança estereotipada mas inconsciente esconde-se mesmo sob os chamados jogos e diversões da humanidade. Não há graça neles já que sucedem ao trabalho. Entretanto, manda a sabedoria não se desesperar com as coisas.
Quando consideramos aquilo que, para usar as palavras do catecismo, é a principal finalidade do homem, e em que consistem as verdadeiras necessidades e recursos da vida, tem-se a impressão de que os homens elegeram deliberadamente seu habitual modo de viver porque o preferiram a qualquer outro. No entanto, pensam honestamente que não há opção, se bem que espíritos altivos e saudáveis dêem-se conta de que o sol nasce todas as manhãs e de que nunca é tarde demais (...)"

Thoreau, Henry David, 1817-1862 Walden, ou, A vida nos bosques ; e, A desobediência civil / Henry D. Thoreau; tradução Astrid Cabral. - 7.ed. - São Paulo : Ground, 2007. p.3

domingo, 7 de outubro de 2012

Existencial idades - O dia seguinte



No dia seguinte acordaram com a novidade: 100% dos votos anulados. 100%? Exatamente, ninguém mais queria delegar ao outro o seu poder de decisão. Destruíram os bancos, o planalto central e a bolsa de valores. Não queriam mais o dinheiro corrompendo pessoas, comprando almas e expropriando vidas. Decidiram que todos seriam responsáveis por educar as crianças. Sabiam que cada qual tinha uma importância fundamental na sociedade que pretendiam construir. Formaram mutirões trabalho para produzir alimentos em suas comunas e nos espaços demolidos. Os frutos eram repartidos e todos desfrutavam sem serem expropriados do seu trabalho. As fábricas foram tomadas e formaram equipes de trabalho em que cada um trabalhava uma vez no mês e produziam apenas o necessário. O resto dos dias? Fizeram festas, dançaram, produziram literatura, arte, poesia, conhecimento e compartilhavam com todos nas prosas do dia-a-dia. A vida florescia quebrando concretos que antes os mantinham cativos.

domingo, 12 de agosto de 2012

IDADE - Dê composição
















E na na lápide o abutre gravou três palavras para que não esquecessem:
"Jaz um pensamento"
Por baixo dela, microvidas, bactérias, insetos, fungos reclamavam: E pensamento morre???

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

IDADES DE UM LUGAR - Das delicadezas perdidas, uma avenida chamada Brasil


Filme: "Chico ou o país da delicadeza perdida"




Filme documentário: "Uma avenida chamada Brasil"

Talvez o sentimento de Proust, Tempo perdido?
Onde achá-lo no meio do caos?
Hoje eu vou sair...
Ver se eu me encontro com o Tempo
Será que consigo convencê-lo?
Itamar e Leminski diziam que o homem com uma dor
é muito mais elegante!
Analgésicos aliviam por determinado tempo
Mas quando volta 
vem maior do que a de um desterrado de Shakespeare
Olhe bem Tempo, que finesse tem a nossa dor..
Urubusserva, rodeia, come a carniça e some!
Que venham os bons tempos!

CURIOUS IDADES - De Recife para o mundo: Manguebeat


Diretamente do mangue:


Manguebeat no Recife, cidade onde andam os homens caranguejo


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

EMPRESTADAS - A ausência



Garçon
 Por favor,
Um icebergue.



Emprestada de Patrícia Mendonça do "Colobom".

EMPRESTADAS - Das estações

Primavera
Verão
Outono
Inverno
Sé: desembarque pelo lado esquerdo do trem


Emprestado de Patrícia Mendonça "Colobom".

FEMINIL IDADES, emprestadas - Busca Vida

Busca a vida
A vida busca
Pulsar, amar
Cantar, Gozar
Vida...

Para elém das
carcaças estripadas
Na montanha de
corpos, fogados,
estourados, ensinerados

Vasos, veias explodem em visitas
A quartos estranhos
Cadê? Já foi!!!
Vida...
Pulsa...
Para além do agora...
Cuicurucando, chamando
Pra guerra!!!


Emprestado de Patrícia Mendonça, "Colobom".

FEMINIL IDADES CANTADA (SEM CANTO) - Geni sangue nos olhos

"Acontece que a donzela
(e isso era segredo dela)
também tinha os seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilha e a cobre
Preferia amar com os bixos"

Só ela sabia da sua dor...Geni já não era mesma.
O prefeito chegou de joelhos e ela não hesitou:
-Prefeitinho do caralho! Como você é podre! 
Ontem mesmo você mandou incendiar o meu barraco lá no moinho. Agora você aqui de joelho... Diz que é para o bem da cidade... Dou-lhe um segundo pra sumir da minha frente!
E quando ele se virou para correr ela atira com sua winchester 22, a mesma do Santo Cristo, e explode o joelho daquele monstro imundo. Ele olha pra traz e suplica a compaixão de Geni. 
-Olhe-me nos olhos seu seu engorda corja do setor imobiliário. Eu não vou matá-lo por piedade. Condenar-lhe à sobrevida é pior que qualquer morte e é assim que você vai viver daqui por diante. Você e toda corja: seus vereadores e aliados  estão condenados ao trabalho. Comerão apenas o suficiente para se manterem trabalharem. Agora se manda. pro trabalho!
O bispo chegou com os olhos vermelhos. Doidão. Geni o segura pela batina:
- Véio hipócrita do caralho, enquanto você usa esse baguio aí do bom, crianças e adolescentes são mortas na favela para sustentar o luxo dos grandes traficantes. O lance é o seguinte, seu pedófilo desgraçado, aproveitador de almas em desespero, chegou sua hora. A grana que você arrancou das pobres de almas aflitas será revertida para que todos tenham acesso à arte, aos encontros e à poesia! Só assim nos livraremos livres dessa carcaça de culpa que a sua igreja nos faz carregar. E tem outra coisa, velho nojento, você encontrou sua alma gêmea: tá ligado o homi do Zepelim? Pois é o homem pegou sífilis e gonorreia, tá esclerosado, mais ainda doido pra pegar um, vou colocá-lo no meu lugar. Isso será para você relembrar o seu tempo de pedofilia!
O banqueiro chegou com um milhão, Geni arranca-lhe todo o dinheiro e ateia fogo aos montes.
- A partir de agora todo dinheiro do mundo não tem mais valor. As nossas vidas terão outro sentido, ninguém jamis poderá comprá-las. 
Se volta ao banqueiro:
- Você quantas vidas você roubou por conta da sua ganância? Desgraçado! Você por acaso sabe o que é sobreviver? Diga-me uma coisa, o senhor gosta muito desse sistema, não é?
-Gosto muito!  É a lei da natureza: uns trabalham, outros desfrutam.-Responde o velho.
Geni chuta a boca do avarento que cai com a cara espatifada.
Pois é seu asqueroso nojento, a lei da natureza chegou pro cê, Vai ter que soar para conseguir viver. Trabalharás todos os dias, não vai conseguir pensar, não terás tempo para nada, será controlado e odiado por todos por sua miséria de espírito, por olhar pro sofrimento da humanidade com indiferença e contribuir para tantos tempo para promovê-lo.
De longe, o velho do Zepelim observa tudo muito assustado! Foi saindo de fininho com suas pernas esclerosadas num tombo fenomenal.
- Me ajudem! Me ajudem! Eu preciso me mandar daqui! Essa Geni não é mais a mesma! Ela tem sangue nos olhos! Vou explodir tudo!
Geni se aproxima do velho esclerosado e o segura pelos cabelos:
- Sangue nos olhos, não é mesmo? Achou o que? Que encontraria a Branca de Neve e os sete anões? Sou apenas fruto do que vocês semearam. Você vai se mandar daqui para com uma passagem só de ida com o bispo para a ilha do lixão com o bispo. Vão se devorar até que se acabem. Vocês se merecem! 

FEMINIL com EXISTENCIAL IDADES - Três cachaças, um cavaco, um pandeiro e um irmão






Sem cores são as dores
Dores de dólares,
dores de colares
e o brilho funebre de suas pérólas.
Prende-se ao pescoço, cativa

Quebro-lhe e saio em descompasso
e encontro num cavaco, num pandeiro, num irmão e
num trago das três cachaças,
"Cura Mágoa, Busca Vida e Poção Mágica", a
receita pra aliviar temporariamente a dor do cativeiro







terça-feira, 7 de agosto de 2012

EXISTENCIAL IDADES - Do vento vem tudo
















DO VENTO

Alimenta o fogo
atormenta o mar
arrepia o corpo
joga o ar no ar
leva o barco a vela
levanta os lençóis
entra na janela
leva a minha voz
nuvens de areia
folhas no quintal
canto de sereia
roupas no varal
tudo vem do ven-tudo vem
do vento vem tu-do vento vem
do vento vem tudo
tudo bem
sacode a cortina
alça os urubus
sai pela narina
canta nos bambus
cabelo embaraça
bate no portão
espalha a fumaça
varre a plantação
lava o pensamento
deixa o som chegar
leva esse momento
traz outro lugar
tudo vem do ven-tudo vem
do ven-tudo vem
do vento vem tu-do vento
vem tu-do vento vem
do vento vem tudo
tudo bem


(Arnaldo Antunes/Paulo Tatit/Sandra Peres)

domingo, 5 de agosto de 2012

ANCESTRAL IDADE - Construir-se é saber a sua história


Minha história, saber quem eu sou
me fazem forte
Desafio o mundo
Minhas armas não são de aço
Posso enlouquecer os que me matam todos os dias

















Naná Vasconcelos e ancestralidade

Nota: Ancestral idades é mais uma das "idades" do blog. As idades do blog são: Femin, Existencial, Curios, Cantadas. Idades que me fazem. Eu me construindo ora só ora com os outros que cruzo e que faço questão que estejam em em mim.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

EXISTENCIAL IDADES - Eu queria ser trapezista

Era Uma Vez

"Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora
Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio
Me atirava do alto na certeza que alguém segurava-me as mãos, não me deixando cair
Era lindo, mas eu morria de medo
Tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos Aquela gente encostada que chegava e seguia
Era disso que eu tinha medo, do que não ficava pra sempre

Era outra vez, outro parque, outro circo, ciganos e patinadores
O circo chegou a cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá
Os artistas se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo
E eu, meio ousada, entrei no meio deles e falei que queria ser trapezista
Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora
Era uma moça bonita, mas era uma moça forte, era uma moçona mesmo
Ela me olhou, riu um pouco e disse que era muito difícil mas que nada era impossível

Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy, veio Diderlang que parecia um príncipe
Veio o dono do circo, as crianças, o público...
De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando
A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto
Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar para as pessoas,
Só aí eu vi que estava sozinha"

Antonio Bivar






quarta-feira, 1 de agosto de 2012

EXISTENCIAL IDADES - ANTI BIÓTICO


Anti biótico, contra vida.
Tomo para matar qualquer tipo de vida dentro de mim
Na bula diz:
"Sem contra-indicação para o sistema capitalistório"
Tomo de 12 em 12 horas.
O problema é que a porra não faz efeito sobre mim
Vira e mexe os bixos se remexem dentro de mim e saem pra fora em busca de vida!


quinta-feira, 26 de julho de 2012

CURIOS IDADES - Antônio Cândido, aniversário de 94 anos Encontrando poesia na vida do campo

Antonio Candido, esse cara é foda! Responsável por muitos dos meus pensamentos e por minha convicção e luta contra a sobrevida no capitalismo



"As várias atividades da lavoura e da indústria doméstica constituem oportunidades de mutirão, que soluciona o problema da mão-de-obra nos grupos de vizinhança, (...) suprindo as limitações da atividade individual ou familiar. E o aspecto FESTIVO, de que se reveste, constitui-se um dos pontos importantes da vida cultural do caipira"


CÂNDIDO, Antônio. 1918 - Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação de seus meios de vida. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 88.



EXISTENCIAL IDADES CANTADAS - Na cova dos leões




"E o ter medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho em ti navego
E eu sei que tua correnteza
Não tem direção"

Renato Russo






Medo de ficar sem grana
Medo de sofrer
Medo da morte
Medo da solidão
Medo do amanhã

E de tanto medo, não há mais vida
Prefiro a cova dos leões,
Vê-los alimentando-se da minha carne com voracidade




FEMINIL IDADES - Surto de TPM


Queria apagar tudo o que escreveu

Não podia agir como pensava
Negava-se!
Como se tudo aquilo não fosse ela
Eu vazio de sentido

Sem consciência,
Negava-se!

Pensou em voar do penhasco

E mesmo quando o caos entre prantos e loucuras passou
Continuou a praguejar:
Se existe um deus que criou essa condição feminina desgraçada..
Cassete! Que vá pro inferno!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

sábado, 21 de julho de 2012

EXISTENCIAL IDADES - Como é que se chama o nome disso?


Poeta Zizo em "Febre do Rato"
Minha vida não tem dono
O tempo é meu
mas o compartilho com qualquer um
qualquer um que queira
De preferência os vagabundos,
famintos, desajustados
Meu ambiente insano:
portal para a vida
Num espectro de distorção,
há quem queira atravessá-lo?


terça-feira, 17 de julho de 2012

FEMINIL IDADES - Encontro de perdidos: um e único


Um único encontro
Grávido,ele, buscava sexo
Eu, numa vida invadida por superficialidades
buscava um bom papo
Falamos sobre 100 anos de solidão
Sobre vida e sede de vida
Mortes, medos e dor.
Rimos das hipocresias alheias
Praguejamos os autoritarismos 
E, com volúpia, entregamos nossos corpos ao luar

CANTADAS - DA VIOLA, PAULINHO BUNITEZA


Paulinho da Viola, beleza e choro

EXISTENCIAL IDADES - Abandonar-se


Abandonei-me de minha pátria
Ou minha pátria me abandonou?

CANTADA - Do que não tem nome, de Neys para Cazuzas

"Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa para um abraço ou consolo
(...)
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim (...)"



segunda-feira, 16 de julho de 2012

CANTADA - Convite (sem formalidades)

Vamos passear de guarda-chuva?
Vamos nos dar privilégio?
Tecer noites e páginas?

"Mão e luva" - Adriana Calcanhoto

INCONFORM IDADES: POVOS E POVOS

O índio não tinha polícia
não tinha farmácia, recalques,
moléstias nervosas
nem delegacia de ordem social.
Vergonha de ficar pelado? Tinha não!
Nem de luta de classes
Nem de tráfico de brancas
Nem Ruy Barbosa
Nem voto secreto
Nem se ufanava do Brasil.
Não era aristocrata, nem burguês, nem proletário.
Por que será?

EXIXTENCIAL IDADES - Experiências verdadeiras

"As nossas experiências verdadeiras não são tagarelas.
Elas não poderiam se comunicar, mesmo se quisessem.
Isto é, falta-lhes a palavra".

 (F. Nietzsche)

FEMINIL IDADES - Por elas mesmas



"Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te meu corpo
Prometido à morte! (...)
Meu corpo, trago nele vinho forte:
Meus beijos de volúpia e maldade"

Florbela Espanca

domingo, 15 de julho de 2012

EXISTENCIAL IDADES: Momento Kerouac

"Eu só confio nas pessoas loucas
aquelas que são loucas para viver,
loucas para falar,
loucas para serem salvas,
desejosas de tudo ao mesmo tempo,
que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira
mas queimam, queimam, queimam
como fabulosas velas amarelas romanas
explodindo como aranhas através das estrelas"

"Ofereça à eles aquilo que mais desejam secretamente;
É claro que entrarão em pânico imediatamente"

Jack Kerouac


EXISTENCIAL IDADES - Rosas





Sou mais a Rosa, a vermelha
Pode ser também aquela de Guimarães
Ou a rosa usada para calar as armas,
Conter fúrias infundadas,
Despertar almas.


FEMINIL IDADES - Qual amor?

O meu amor não vai, não passa, não adormece como os amores de verão na praia. É figueira quebrada por aqueles que nela se penduram enquanto se divertem. Chega a primavera e o galho quebrado rebrota e a cicatriz do galho quebrado é uma história de um momento feliz, impossível apagar esse amor. E na outra primavera os galhos rebrotados florescem e perfumam os ares, embelezam a vida de quem passa. Aqueles que um dia brincaram na figueira, olham admirado com tanta beleza e lembram, talvez não com o mesmo amor, do tempo em que foram felizes ali.  Os pistilos das flores conversam com os insetos que anunciam que é tempo de se transformar e persistir, como o amor encontrado na cidade submersa pelos escafandristas.


Imagem: flicker.com

FEMINIL IDADES - Sobre gigantes

(...) "Até um cego poderia ver que se trata de moinhos de ventos e não de gigantes". (CERVANTES, Dom quixote)

 
(...) "O mal não é a gente amar... O mal é a gente vestir a pessoa amada com um despropósito de atributos divinos que chegam a triplicar as vezes o volume do amor. o que se dá? Uma pessoa natural é fácil substituir por outra natural também, questão de sair uma e entrar outra... Porém a que sai do nosso peito é amor que sofre de gigantismo idealista, e não se acha outra de tanta gorduta pra botar logo no lugar. Por isso fica um vazio doendo... Então a gente anda cada estrião a pé... Aquilo dura bastante tempo, até que o vazio, graças aos ventinhos da boca da noite, encha de pó. Se encha de pó."

ANDRADE. Mário de. Os contos de Belazarte. 6 ed. SP: Martins, 1973, p. 42-43

quinta-feira, 14 de junho de 2012

INCONFORM IDADADES - CANTADAS: Correm para não desistir... De que afinal????


Depois dos navios negreiros e dos metrôs de São Paulo, eu quero um trem para as estrelas!





"São sete horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
(...)
Estranho o teu Cristo, Rio [mundo!],
que olha tão longe, além.
Com os braços sempre abertos
mas sem proteger ninguém.
Eu vou forrar as paredes
do meu quarto de miséria
com manchetes de jornal
pra ver que não é nada sério.
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
que a tristeza é uma maneira
da gente se salvar depois
(...)"

CAZUZA, "Um trem para as estrelas"

FEMINIL IDADES - Para os momentos de onipotência


"HOJE
sou uma das coisas
raras do planeta
capaz de dar à vida
tudo que ela tem de luz

flor
que aberta
traria da água escura
o polén, a fruta

dia
que tirania
de dentro da noite
o lado oculto da lua

tão rara
e como eu
todas as sementes
que o vento arranca de tudo e atira no nada

RUIZ, Alice. "Dois em um", p. 31. São Paulo, Iluminuras, 2008

domingo, 11 de setembro de 2011

CURIOS IDADES - Outro 11 de setembro

DIA DA CATALUNHA

A colonização na idade antiga deu-se em duas etapas principais. A primeira etapa caraterizou-se pelo início da colonização pelos gregos e cartagineses. A segunda etapa corresponde a romanização da Catalunha, processo iniciado em 218 a.C. O atual território catalão foi primeiro englobado à província chamada Hispânia Citerior, que o ano de 27 a.C. deu lugar à província Tarraconense, cuja capital foi Tarraco (atual Tarragona). Com a crise do século III que afetou o Império Romano, a Catalunha foi afetada gravemente com destruição e abandono das vilas romanas. A partir do século V o país é invadido pelos povos bárbaros, basicamente tribos germânicas e asiáticas. Um desses povos, os alanos, assentou-se no noroeste da Península Ibérica e provavelmente deu nome ao território hoje conhecido como Catalunha (conventus alani).
No século IX Carlos Magno invadiu o norte peninsular e constituiu a Marca Hispânica, um conjunto de condados que seria o embrião do futuro Principado da Catalunha. Com a ocupação dos francos desenvolveu-se o feudalismo na Catalunha. No século XII, mediante o casamento do conde Ramón Berenguer IV (do Condado de Barcelona) com Petronila de Aragão (do Reino de Aragão) formou-se a Coroa de Aragão. A Coroa de Aragão expandiu-se através da conquista das cidades de Lérida, Tortosa, do Reino de Mallorca (as ilhas Baleares), do Reino de Valência, da ilhas da Sicília e Sardenhna, além de outros territórios no Mediterrâneo. Nas primeiras décadas do século XIV, a coroa teve seu apogeu político e sua maior expansão territorial. A partir de meados do século XIV a situação começou a mudar, por culpa de catástrofes naturais, crises demográficas, recessão da economia catalã, o surgimento de tensões sociais e, finalmente, com a crise sucessora (o rei Martinho I não deixou herdeiro direto). A eleição de um rei castelhano, Fernando I, da dinastia Trastâmara, marcou o início da aproximação da Coroa de Aragão à vizinha Coroa de Castela. Em 1469, o Rei Fernando II de Aragão casou-se com Isabel I de Castela, o que conduziu a uma união dos dois reinos e à formação da monarquia espanhola.
Nos séculos XVI e XVII, a Catalunha viveu um período de decadência. No seio da Guerra dos Trinta Anos, os catalães revoltaram-se contra o domínio castelhano, na Guerra dos Segadores, que foi de 1640 até 1652. O rei espanhol Felipe IV acabou recuperando Catalunha, porém teve de jurar os privilégios do Principado.
Durante a Guerra de Sucessão Espanhola, a Catalunha apoiou o pretendente austríaco (tal como Inglaterra e Portugal), e depois da Batalha de Monjuic, a 11 de Setembro de 1714, apesar do heróico combate, Barcelona teve que se render às tropas do pretendente francês. O novo rei, Filipe V de Espanha (Filipe de Anjou) era neto do rei francês Luís XIV e incorporou os territórios da antiga Coroa de Aragão, que foram submetidos a partir de então a um regime absolutista e centralista. A Catalunha deixou de ter um estado próprio (a Generalitat e o Conselho de Cento), perdeu os seus direitos e foi incorporada definitivamente no Reino de Espanha.
Com o Romantismo e o desenvolvimento industrial, em meados do século XIX surge o sentimento nacional catalão. Uma de suas primeiras expressões políticas foram as Bases de Manresa (1892), em que os políticos catalães detalharam uma série de reivindicações de autonomia. Em 1914, com a criação da Mancomunitat, a Catalunha ganhou o seu primeiro órgão de autogoverno desde 1714. No entanto, a chegada ao poder do ditador Miguel Primo de Rivera (1923) malogrou este projeto de autonomia.
Com a proclamação da II República Espanhola, em 1931, reconheceu-se a Comunidade Autónoma da Catalunha. Depois de prolongadas negociações aprovou-se o seu Estatuto (1932), sendo eleito Presidente da Generalitat, Francesc Macià. Depois da derrota dos Republicanos na Guerra Civil (1936-1939), a Catalunha perdeu a sua autonomia e sofreu uma importante e pesada repressão cultural e linguística (com a abolição do uso do catalão), por parte do Estado Nacionalista Espanhol. O presidente da Generalitat Lluís Companys foi preso na França, extraditado à Espanha e fuzilado.
A Generalitat continuou existindo no exílio, até que em 1977, dois anos depois da morte do general Franco, o seu presidente Josep Tarradellas pôde voltar a Barcelona. Em 1979 foi aprovado um novo estatuto de autonomia para Catalunha e o país recuperou outra vez os seus órgãos de autogoverno e a sua língua.
Com os Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) a Catalunha ganhou projeção internacional, sendo o primeiro destino turístico da Espanha. Além de sua capital, os principais destinos na Catalunha são: as praias da Costa Brava e Costa Dourada, estações de esqui nos Pirineus e ainda turismo histórico (em Tarragona, com monumentos romanos classificados Património da Humanidade pela Unesco em 2000), turismo cultural (como Teatro-Museu Dalí em Figueras). Barcelona oferece um bom número de museus, como o Museu Pablo Picasso, a Fundação Joan Miró e a Fundação Antoni Tàpies, além do conjunto de obras do arquiteto Antoní Gaudi e o centro medieval.
Do ponto de vista financeiro, a Catalunha possui instituições com grande poder, como a La Caixa, ou o Banco Sabadell. Em termos industriais, a Catalunha é a comunidade que tem maior participação no PIB industrial do território espanhol, com 25% do total do estado.
Em 2006 o povo da Catalunha aprovou em referendo um novo estatuto de autonomia. Entretanto, quatro anos depois boa parte das inovações deste estatuto foi derrubada pela sentença do Tribunal Constitucional, que o considerou incompatível com alguns artigos da Constituição espanhola. Esta sentença desatou uma onda indignação que provavelmente incidirá nos resultados das próximas eleições, convocadas para o dia 28 de novembro.
Eber Amaral revisado por Josep M. Buades