terça-feira, 19 de abril de 2011

EXISTENCIAL IDADES - INCONFORMAL IDADES: Diálo com Miguilim



No mundo das formas, da estética, as imagens falam mais do que as palavras. 
De fato! - concordou Miguilim em uma de suas travessias.
Mas será que enxergamos para além das formas quando inseridos nelas? Quais são os limites da nossa percepção? Perguntava à Miguilim enquanto o seguia pela quarta margem.
 A questão não é o limite da nossa percepção – disse-me ele-, mas quem e o que condicionou a nossa percepção. Eu por exemplo, vejo tantos ao meu redor e me vejo só. As travessias me foram caras para enxergar a solidão.
 Senti que tal condição incomodava-o, preferi o olvido. Atravessava a quarta margem e quando estava perto de finalizá-la, uma forte tempestade carregou Miguilim para os confins de um oceano frio e sombrio.
Foi um pesadelo horrível! Acordei aliviada quando ouvi a voz de Miguilim:
- O esquecimento é a morte, é a sobrevida. Teimosa do jeito que é, insistirá pela vida.
Estávamos no meio da travessia.





quinta-feira, 7 de abril de 2011

EXISTENCIAL IDADES: Negociata

Fitava a mulher da noite por trás do filme do carro com curiosidade.  Era estranho o encantamento, como se tentasse descobrir algo que ela escondia quando tentava seduzir todos que se aproximavam. Para todos os mesmos gestos e palavras, tão automatizados que parecia que não estava ali.
-Por onde anda essa moça? - Questionava-se a observadora em pensamento.
A meretriz sente que esta sendo fitada pela outra que se esconde atrás filme e vai ao seu encontro. Bate firme no vidro do carro:
  - Escuta aqui garota isto aqui é um local de trabalho, vai dizendo logo a a que veio ou vasa!
Embaraçada, pensa acelerar e sumir dali, mas sentiu-se que deveria dizer-lhe,. Abre o vidro escuro do carro:
  - Acalme-se, eu não tenho a intenção de atrapalhar, desculpe-me. Na verdade nem gostaria de ver o que estou vendo. -Percebe que esta se enrolando ao tentar dialogar com a madame que, com os peitos extrapolando o decote, responde-lhe furiosa: 
  - Escuta aqui, por acaso a senhorita é alguma espécie de virgem Maria? 
 - Não, não é isso! - Explica-lhe a observadora- O que me incomoda não tem nada ver com o que pensas. Olho pra ti vejo leveza em seus gestos, doçura em seus olhos, tão desconexos com as palavras que diz a todos que param por aqui. Leveza e doçura que há muito perdi vendendo a alma.
A dama da noite beija-lhe a testa, acaricia-lhe o rosto e diz: - Isso não é pra qualquer um não menina! Todo mundo sua estrada de pedra, também não te julgo. Essa é a minha. Agora vai, preciso trabalhar!  Vai, vai!!!